17 de mar. de 2011

IPEA AVALIA "APAGÃO" DA MÃO DE OBRA NO BRASIL



Publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – o Boletim Radar No 12 - lançado nesta terça-feira (15), em Brasília, avalia o “apagão” de mão de obra no Brasil nesse período de crescimento econômico e aponta as soluções para o problema. O estudo toma como base a demanda por engenheiros e profissionais afins no mercado de trabalho e a projeção da oferta desses profissionais em 2020 porque a carência nessa área é tida como “muito crítica”.

A pesquisa utilizou como termômetro para medir a escassez de engenheiros e profissionais afins os salários e a taxa de desemprego entre os profissionais. O indicador “salários relativos” mostra uma tendência ascendente em muitos setores, o que apontaria para cenários de escassez.

Segundo a publicação, os problemas de escassez de mão de obra especializada podem ser resolvidos via ajuste salarial e mobilidade espacial da força de trabalho. Quando o problema extrapola regiões e setores econômicos específicos do país e se torna generalizado, é necessário pensar em dois conjuntos de iniciativa, cada um deles para diferentes horizontes de tempo.

No curto e no médio prazos, a solução passa por maior investimento das firmas em qualificação e em especialização da força de trabalho entrante no mercado e retenção de profissionais com maior experiência. Também são sugeridas medidas no sentido de atrair e requalificar os profissionais que tenham saído do mercado ou se deslocado para outras funções, além da redução das barreiras do mercado à entrada de profissionais estrangeiros.

Os economistas alertam que qualquer dessas medidas deverão trazer custos adicionais aos contratantes. E acrescem que, a longo prazo, para que eventuais cenários de escassez não sejam prolongados, as medidas devem ser de contínuos investimentos na educação, tanto básica quanto profissional e superior, mais na qualidade do que na quantidade.

Em cinco artigos, o Radar nº 12 aborda, além dos possíveis gargalos e as soluções para o mercado de trabalho brasileiro, avaliam o impacto da qualidade do ensino básico na formação profissional e a formação de pessoal técnico-científico.

Preocupação crescente

A escassez de mão de obra qualificada faz parte dos debates públicos atuais do governo, empresas e academia, preocupados se o problema pode comprometer o atual ciclo de desenvolvimento do país. “A questão é saber se as demandas por qualificação estão aumentando com mais rapidez do que a capacidade de qualificar trabalhadores, Ou seria a oferta que falha?”, provocam os estudiosos.

Eles mesmo demonstraram preocupações com o problema, tema de estudos do Ipea há alguns meses. “Foram movidas, num primeiro momento, pelo rápido crescimento dos níveis de emprego anteriores à crise de 2008, ao mesmo tempo em que as expectativas em relação à descoberta de petróleo do pré-sal se traduziam em dramáticos aumentos dos requerimentos de pessoal altamente qualificado para o setor’, dizem, explicando as motivações.

A retomada do crescimento econômico do país trouxe novas elevações nos níveis de ocupação e também aumentos nos salários, e queixas de que estariam rareando candidatos habilitados aos empregos oferecidos. O país chegava ao que jamais experimentara no passado: o pleno emprego, um considerável encolhimento da informalidade e vários segmentos insatisfeitos com os níveis de competências dos recém-empregados.

Ensino e formação

Para avaliar a situação da qualidade do ensino básico na formação profissional e a formação de pessoal técnico-científico, os estudiosos consideram o desempenho cognitivo dos estudantes, que se requer elevado para eles terem acesso aos cursos nas engenharias, e as estruturas do ensino superior, que constituem o nicho em que se processa a formação dos graduados em engenharias.

O estudo também considerou as características da trajetória da formação desses profissionais, e como elas se projetam, para o futuro próximo, a oferta de engenheiros; noutro, a evolução do emprego de engenheiros em vários setores e como ele poderá se dimensionar adiante, em diferentes cenários de crescimento econômico.

O resultado dessas pesquisas, segundo técnicos do Ipea, dará suporte à continuidade do debate público sobre o problema, o que inclui o exame de eventuais alternativas de políticas públicas por ele exigidas.

De Brasília
Márcia Xavier