3 de mai. de 2010

PLATITUDE

Artigo publicado no JL - Jornal de Londrina, em 03/05/2010, na coluna Profissão Atitude


ABRAHAM SHAPIRO

Há dias, conheci a palavra platitude. Você e eu estamos expostos a platitudes tão intensamente quanto ao ar que respiramos.

Um exemplo. O periódico mensal gratuito que recebo de uma empresa. Bem diagramado. Impressão cara. Ecológico – o papel é reciclado. O conteúdo, porém, é para quem tem boa digestão. Não é o meu caso. Sempre igual. O que fazem é “marketing de prestígio” – puxa-saquismo escancarado a executivos de empresas recém chegadas à sua carteira de clientes. “Medalha de ouro” em platitude.

Palestra de motivação: platitude. Discursos políticos. Análise de tendências econômicas. “Missão, visão e valores” de quase todas as empresas. Planejamento estratégico. Revistas de vendas. Reuniões na empresa. Pregações religiosas. Platitudes.

O gerente que diz: “Os funcionários não fazem tudo o que se espera deles”. Platitude! E o outro, diz: “Precisamos fazer uma pesquisa de clima organizacional”; “Não é o salário que motiva as pessoas, mas o ambiente amistoso”. Platitude.

O consultor que diz: “Elimine custos financeiros”; “Faça caixa”; “Corte gastos”. Platitude.

O diretor-presidente ao gerente de vendas: “Renove a equipe de vendas”; “Temos que ser mais agressivos no mercado”; “O cliente em primeiro lugar”. Platitudes.

Por quê? – você pergunta. Eu explico. Treinar, padronizar, controlar, maximizar, minimizar, nada disso é decisão. São atribuições básicas, “metas em aberto”. Tal como todo mundo precisa de alimento, custos precisam ser revistos e minimizados, as políticas comerciais discutidas e melhoradas, etc. Atribuições básicas não são pautas de reuniões. Devem apenas estar agregadas à descrição de cargos, e praticadas. A quem não as cumpre: rua. É um inepto.

Mas platitudes agitam reuniões, dão-lhes vida. Em Power Point, então, é o que há! Gráficos de melhoraria do desempenho médio. Frases de efeito, como: “Aumentar o volume de venda”, “Aumentar o preço médio”. Tabelas demonstrativas de que as filiais abaixo da média devem subir à média para que a empresa fature tantos milhões a mais no período. Todos se encantam com isso.

De repente, depois de “n” platitudes inócuas, um tonto qualquer do terceiro escalão levanta um dedo e pergunta: “Ok. E como vamos fazer isso?” Um dos “sábios estrategistas” da cúpula magistral, com o queixo empinado e o olhar faiscante, responde em tom de discurso de abertura da temporada de caça: “Isto é uma simples questão de implementação”. A reunião está concluída. Nada, absolutamente, acontecerá depois disso. É a platitude perpetuando o ritual infrutífero de mais uma reunião sem razão ou sentido.

Agora que você sabe o que é platitude na prática, vamos ao dicionário. “Platitude – substantivo feminino; qualidade do que é banal, monótono e trivial; caráter do que possui qualidade medíocre, sem expressão.

Se depois de tudo isso eu prosseguir escrevendo, já sabe, não é?
______________________ 

Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473