19 de mai. de 2010

RACIONALIZAR: COISA QUE TODO MUNDO FAZ

ABRAHAM SHAPIRO

Um indivíduo frustrado pode adotar saídas de emergência para sentir-se bem. Uma delas é a racionalização.

Racionalizar é algo que se parece muito com aquela prática com que todos convivemos: 'criar desculpas'.

Um sujeito vai pedir aumento de salário ao chefe, que lhe nega após dar motivos claros. O empregado sai dizendo que o chefe foi malvado. Outra possibilidade seria o nosso cara adotar explicações do tipo: “Sem problema. Eu não estava precisando desse aumento, mesmo!” Estes são simples exemplos de racionalização.

Por que racionalizamos? Estamos o tempo todo lutando interiormente para dar sentido às nossas experiências pessoais, comportamentos e sentimentos. O objetivo disso é vermo-nos livres da angústia e manter o autorespeito. Faremos, assim, todo o possível para confortar o nosso ego criando explicações que nos pareçam racionais, ou seja, boas razões para acomodar internamente as coisas que nos importunam.

Uma cena corriqueira em grandes centros. Um rapaz entra num supermercado e furta uma barra de chocolate. Questionado sobre este comportamento errado, ele responde: “Chocolate é muito caro, e esta rede é rica demais”. Ou talvez diga: “As filas dos caixas estavam grandes, e eu tinha pressa”. Mais preocupante, contudo, seria quando a situação assumisse outra proporção, como por exemplo: “Não sei porque vocês são tão moralistas! Os políticos roubam e ninguém os põem na cadeia! Eu não posso pegar um simples chocolate?”

Toda racionalização nunca é tão modesta quanto aparenta. Ela envolve um conjunto complexo de 'explicações' e procura assegurar contra possíveis 'ataques'. A pessoa que racionaliza cria uma coleção de saídas de modo tal que se uma delas for 'destruída', outra estará imediatamente pronta para substituí-la. O jogo é muito rápido. E dependendo do grau de treinamento, isto se torna uma prática admirável por sua maestria.

O interessante na racionalização é que as “explicações” não são de todo mentiras. A intenção não é enganar. Ela só deseja ter razão e sentir-se mais confortável do que no estado inicial. A coisa chega ao ponto dela não ter consciência das deformações que resultam de seus pensamentos desejosos de comodidade.

O problema é que não existe uma linha muito clara que diferencie a razão factual da racionalização. Por este motivo, geralmente tornamo-nos agressivos contra os contestadores das “explicações” que elegemos. É possível entender, pois, na verdade, quem racionaliza está apenas - e acima de tudo - defendendo seu mais importante patrimônio: o ego.

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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473