10 de mai. de 2010

QUESTÃO DE PRINCÍPIOS?

Artigo publicado no JL - Jornal de Londrina, em 10/05/2010, na coluna Profissão Atitude


ABRAHAM SHAPIRO

Uma das coisas mais importantes que observo nas pessoas excelentemente ajustadas ao trabalho é o amor à paz e a busca pela paz em tudo o que fazem. Já, o elemento comum entre todas as desajustadas é o apego ao ego.

Nosso ego gosta de louvores. Quer estar em evidência em eventos e sob o foco das referências verbais de todos. O que ele faz para conseguir isso? Um de seus meios mais utilizados é o disfarce em princípios. Nos mais retos e bem orientados princípios de vida, o ego esconde racionalizações com que habitualmente justificamos grosserias e egocentrismos. Surpreendente, mas irônico também. Quantas amizades, casamentos e sociedades não foram destruídos por egos disfarçados de elevados princípios?

Já ouviu: “Não posso concordar com isso. Não que não queira, mas por questão de princípio”? “Não tem nada a ver comigo. Só preciso ensinar a ele quais são os meus princípios”! “Por mim, até deixo passar. Mas tenho por princípio não perdoar ninguém até que peça desculpas formais. ‘Sinto muito’ não é suficiente para mim!” Egoísmo e arrogância traduzidos em retidão e justiça.

Entramos em discussões por motivos aparentemente corretos, quando na verdade estamos com o orgulho ferido ou o ego magoado. A voz do ego grita como uma criança mimada. Exige coisas como o ‘queridinho da mamãe’! E o resultado? Tendemos quase sempre a “ensinar uma boa lição de comportamento a alguém” ou a impor nossa vontade “justa e correta”.

Se alguém não falar conosco com o respeito que nos deve, ou não nos tratar da maneira como queremos, então é que levantamos mais alta a bandeira da justiça e retidão. Onde estará o ego neste momento? Em busca do trono.

Vou contar algo que vi de perto. Encontrei uma pessoa alegre e descontraída, um senhor já de idade. Sua conduta em relação às pessoas era consistente e optava por ignorar insultos e evitar intrigas de qualquer um. Certo dia alguém lhe sugeriu: “Não é certo que outros lhe tratem sem o respeito máximo. O senhor é um sábio, devia exigir ser bem tratado.” Ele parou por alguns segundos, pensou, e então respondeu carinhosamente: “O princípio mais importante que sigo é que eu, sim, devo tratar os outros com o máximo respeito. Quando ajo assim, espero que eles captem o meu exemplo. Desejo viver uma vida prazerosa. Ao exigir que os demais me tratem com respeito não consigo que me respeitem de verdade. Aí acabo aflito e sem de alegria. Portanto, prefiro trabalhar sobre condições reais de vida do que permitir que o meu ego se fantasie de bons princípios!”

É profundo. Merece análise e um exame de consciência. Depois, talvez, repaginar nosso modo de praticar nossos princípios.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473