29 de jun. de 2009

PALAVRA DADA SEMPRE SERÁ UM DEVER

ABRAHAM SHAPIRO

Houve um tempo em que era comum ouvir falar em calote nos negócios. Hoje, as coisas estão se engrenando de outra forma, felizmente. Tenho para mim que tudo quanto se fez contra a corrupção nos governos serviu também para orientar o modo de vida das pessoas em geral, o que é bom. Não aceito, de modo algum, que se diga, hoje, não ser o Brasil um país sério. Somos sérios, sim. E fazemos questão de sê-lo.

Há poucos dias, tivemos o prazer de promover um evento dirigido ao público empresarial de Londrina e região. Ficamos surpresos ao receber inscrições em número que suplantou as vagas abertas, obrigando-nos a criar novas turmas. Vários interessados solicitavam a concessão de realizarem seus pagamentos em datas posteriores ao início do evento. Mesmo não sendo praxe, mas confiantes no nome e idoneidade das empresas e também na honradez da palavra dada, aceitamos o pedido e tivemos a ventura de ver o compromisso cumprido por todos, exceto um dos inscritos.

Na data do evento, deparamo-nos com duas situações. Uma delas diz respeito a duas pessoas que, havendo feito seus pagamentos adiantados, viram-se impedidas de comparecer. Tiveram a preocupação de ligar e dar-nos saber que não viriam. Pela consideração que tiveram em dar-nos satisfação por sua ausência, assumimos os custos gerados por suas inscrições, e procedemos a devolução do recurso depositado em conta, garantindo a elas a participação em outros eventos que teremos a promover.

A outra situação, contudo, foi na direção contrária ao que queremos demonstrar. Nem por isso nos faz descrer naquilo que já é convicção formada de que o cenário empresarial brasileiro ocupa, hoje, alto nível de seriedade no cumprimento dos deveres mais básicos e tem prosperado neste sentido.

Um dos inscritos de última hora e comprometido a realizar o pagamento na semana seguinte, não compareceu ao evento , não avisou e nem sequer manifestou-se de qualquer forma. Na primeira oportunidade fizemos contato para saber o ocorrido. Ouvimos dele apenas que não foi possível fazer-se presente. Nenhuma justificativa foi-nos dada.

Ao informarmos que sua ausência significava custos assumidos de café, almoço, impressão de apostila e outros itens, recebemos como resposta o manifesto de sua indignação, pois, desde o seu ponto de vista, este não é o modo ideal de se tratar um cliente.

Curiosa situação. Ser cliente tornou-se, aos olhos de muitos oportunistas, uma justificativa para toda sorte de grosseria e desonestidade no cumprimento dos deveres que fazem parte de uma negociação. Na compra e venda, fornecedor e comprador têm direitos e deveres que, só depois de cumpridos, dá-se por realizada a transação – seja qual for. Cliente é só aquele que cumpre o papel específico. Fornecedor, idem. Não se trata de uma condição independente.

A este fulano que sentiu-se ferido por ouvir as reais conseqüências de sua atitude enganosa, nenhum outro dizer cabe mais justamente do que informar-lhe que ninguém precisa de clientes trapasseiros. Gente assim não pertence a segmentos algum de mercado desejável por qualquer empresa. Nós, particularmente, optamos por aqueles que conhecem a regra do jogo dos negócios e dele participam com limpeza de conduta e honra aos compromissos. O que passar disso é calote... dos mais sujos!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473