26 de jan. de 2009

VIVER, APRENDER E ENSINAR

ABRAHAM SHAPIRO

Por que o Teixeira não punha em prática as instruções que seu chefe lhe transmitia? Sua equipe carecia de orientações claras e objetivas para melhorar o desempenho no campo. Sem exceção, todos necessitavam de treinamento prático para vencer as dificuldades operacionais que enfrentavam - muitos deles desde quando foram contratados. Sem isto, seria complicado alcançar os resultados esperados.

Mas Teixeira relutava. Entrava semana, saía semana, ele não resolvia esta pendência. Falava, planejava, mas não cumpria.

Certa manhã, conversando com ele a respeito de situações pesoais dele, ocorreu-me um pensamento. Como ele poderia ensinar algo que não sabia? Aí estava a chave.

Quantas pessoas fingem saber coisas a que nunca se dedicaram! Posam de sabedores, mas não fazem a menor idéia do que seja o assunto ou sua prática. Além disso, há um outro problema básico concernente a isto e que advém do ponto de vista da nossa sociedade. As pessoas não se consideram a si mesmas "mestres". Pensam: "Eu? Um mestre?"

O ato de ensinar, para a maioria, é exclusivamente profissional. Requer uma formação específica, um diploma. Não só. Pensam que deve existir uma habilidade natural que faz de alguém um bom mestre.

No entanto, ensinar é uma forma de vida básica para todos nós. Para se adquirir a sabedoria de viver é preciso converter-se em um mestre. A razão é simples. Se você não pode ensinar uma idéia, você realmente não a conhece.

Na escola, quando seu professor de matemática perguntava: "Quem sabe esta equação?" Você levantava a mão e ele dizia: "Então diga aos seus colegas". Você começava a murmurar: "Bom, hum...é que..." Você acreditava saber, porém, na hora de explicá-la, dava-se conta do contrário.

A verdade é que enquanto você não compartilha uma idéia, ela não é sua! Trata-se de algo virtual. É apenas uma noção confusa que navega na sua imaginação. Transmiti-la aos demais tem o poder de convertê-la em algo real. Só então, você transformou um mero potencial em uma realidade.

Ensinar é uma obrigação moral de todos.

Imagine que alguém conheça a cura do câncer e não queira compartilhá-la com ninguém. Este sujeito causa um sofrimento ao mundo. Creio que merecesse ser chamado, no mínimo, de assassino.

E o que dizer da pior de todas as enfermidades – a mais destrutiva, a mais dolorosa, a mais contagiosa de todas: a ignorância? A ignorância desvirtua as pessoas de seu caminho e sentido de viver. Leva-as a fazer coisas terríveis. Produz uma vida de sofrimento. É a causa da ruína de famílias inteiras. Produz sofrimentos no trabalho, nos relacionamentos, e até na compreensão de si próprio. E muito, muito mais.

Agora seja um juiz. Se você domina o conhecimento sobre como desempenhar bem um trabalho, é o líder de uma equipe que carece saber exatamente isto para ser melhor; se você entende algo sobre a vida e convive com pessoas que sofrem justamente por falta disto, e não compartilha seus conhecimentos com eles, o que você é? No mínimo um ser humano desprezível! E é provável que sua voz interior esteja dizendo: "Não me importam os demais. Sou um lobo solitário. Aprendi sozinho. Pois que eles também aprendam".

Viver no vácuo, isolado, não é humano. É doente.

Há uma responsabilidade moral e social que paira sobre cada um de nós. E ela nos solicita compartilhar conhecimentos e buscar a sabedoria. Para quê? Primeiro: para dividir, pois quem divide conhecimento, o multiplica. Depois, para trazer luz ao mundo.

Quando se reduz a ignorância do mundo, mesmo um pouquinho, deixa-se um incrível legado à humanidade. Algumas enfermidades só podem ser tratadas por doutores especialistas. A ignorância, porém, pode ser tratada por qualquer pessoa que tome a sabedoria a sério em sua própria vida.

Este é o nosso papel. Esta é a nossa missão.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação entre as áreas de vendas e marketing. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473