1 de jan. de 2009

POR QUE SONHAMOS BAIXO?

ABRAHAM SHAPIRO

Mudança de data sempre traz esperança de renovação.

Reparou como o futuro preocupa? Ele é tão forte que nos impede de sentir o real sabor do presente. No entanto, tenho a impressão de que os projetos de quase todo mundo são sempre modestos e hesitantes. Parece que ninguém se permite sonhar alto e perseguir seus sonhos com determinação.

Por que tanto medo de sonhar?

Em 2002 um psicólogo ganhou o prêmio Nobel de Economia. Um psicólogo? Sim. Daniel Kahneman. Seus trabalhos em sociedade com Amos Tversky questionam um antigo pressuposto da economia segundo o qual as pessoas escolhem o que é mais útil, proveitoso e lucrativo para si.

Kahneman e Tversky descobriram que na hora de escolher entre correr um risco ou evitá-lo, nossa decisão não é guiada só pelas chances efetivas de sucesso ou fracasso. Há fatores menos racionais. Um deles – e poderoso – é o medo de perder.

Imagine que sua renda mensal seja de três mil reais e você ganhe mil reais para participar de um jogo. Caso perca este dinheiro, não terá problema no seu orçamento.

Começa o jogo. Você aplica os R$ 1.000 e escolhe entre duas alternativas. A primeira: ganhar R$ 500 certos. A segunda: correr um risco em que você tenha 50% de chances de ganhar R$ 1.000, e 50% de chances de perder tudo. Qual é a sua opção?

84% dos entrevistados escolhem os 500 reais certos, e evitam o risco de não ganhar nada. O ganho certo predomina.

Vejamos outro cenário. Você recebe agora R$ 2.000. Escolha desta vez entre: A) perder 500 inevitavelmente, e B) correr um risco pelo qual há 50% de chances de você perder R$ 1.000 e 50% de chances de você não perder nada e ficar com os R$ 2.000 no bolso. Qual seria a sua escolha?

69% preferem correr o risco de perder mais por que têm esperança, obviamente, de não perder nada. Só 31% optam pela perda inevitável de R$ 500.

Conclusão: quando se trata de ganhar, temos maior aversão ao risco do que quando se trata de perder. Ou seja, estamos mais dispostos a sacrifícios para não perder do que para ganhar. Para “não perder” estamos dispostos a correr o risco de “perder mais”.

Basta olhar para a mesa de jogos. Muitos jogadores conseguem parar quando estão ganhando. Eles se contentam com o dinheiro que levarão para casa. Mas poucos conseguem parar quando estão perdendo. Eles não se resignam às perdas. Seguem apostando movidos pela fé de que sua sorte irá mudar. Permanecem até esgotar sua conta e crédito. Outro exemplo é do investidor que se agarra a ações que estão caindo dramaticamente. Ele prefere esperar por um milagre a vendê-las neste momento e barrar seu prejuízo aos níveis atuais.

A Teoria de Kahneman não se aplica estritamente à economia. Se existem riscos, o que fala mais alto é o medo de perder e não o desejo de ganhar. Assim, ao limitarmos covardemente nossos sonhos estamos, na verdade, temendo abandonar o conforto resignado do status quo em que nos encontramos. É o apego ao que construímos, mesmo sem qualquer perspectiva de sucesso. Preferimos isto a arriscarmos na busca de algo maior e de maior benefício. Alguém disse: “Não há desejo sem perdas. Quem não aceita perder se impede de desejar”.

Meus votos de Ano Novo, portanto, são: “Que em 2009, e em toda a sua vida, você não tenha medo de perder!”
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Tem resultados na interação entre as áreas de vendas e marketing. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473