6 de abr. de 2010

A VERDADE VENDE?

Artigo publicado no JL - Jornal de Londrina, na data de 05/04/2010, na coluna Profissão Atitude


ABRAHAM SHAPIRO

Olhe um comercial de cerveja. Mulheres ou homens de beleza quase utópica associados ao produto. É preocupante. As pessoas que assistem acreditarão que se tomarem essa marca poderão atrair pessoas do sexo oposto? Fora os que esquecem um segundo depois, restam os que não têm experiência de vida suficiente para se dar conta de que tomar cerveja de uma certa marca não resulta em gente bonita e “sarada” a sua volta. Como estas pessoas separam as facilidades do mundo da propaganda das verdadeiras dificuldades da vida?

É claro que os publicitários usam situações que, por serem absurdas ou exageradas, não põem em risco as crenças individuais dos espectadores a ponto de confundi-las. Os comerciais tendem a ser tão absurdos que nenhuma pessoa de bom senso acharia verdadeiras as situações neles propostas. Isto nos leva a crer que, a princípio, não há violação ética. Digo: a princípio, porque, por outro lado, há comerciais de TV tão sutis que até as pessoas mais sensatas eventualmente os assimilam.

Avaliar o efeito de sua propaganda sobre o público alvo é uma obrigação ética das empresas. Adaptar as mensagens deve ser a consequência disso.

Há uma história de um homem que sempre se desentendia com sua esposa, e esta, por pirraça, cozinhava tudo ao contrário do que ele pedia. Se ele pedisse lentilhas, ela servia ervilhas; quando ele queria ervilhas, ela preparava lentilhas. O filho – que normalmente era o porta-voz do pai nas questões de cozinha – já cansado de tantas brigas, teve a idéia de pedir o oposto do que o pai solicitasse. Ele acreditou que deste modo a guerra acabaria. E foi o que aconteceu. Poucos dias após a medida, o pai exclamou: “Sua mãe melhorou muito”. Então o filho confessou ao pai: “É porque eu tenho pedido a ela o oposto do que você pede”.

Um dilema ético: aplaudir ou rejeitar a mentira que trouxe de volta a harmonia doméstica? De um lado, a paz no lar. Do outro, o fato incontestável de que mentir pode se tornar fácil demais e, uma vez que se começa, é difícil parar. E quando a mentira se incorpora à cultura?

Não serão estes os cuidados a se tomar na produção de propagandas? Talvez o mais importante seja lembrar que depois de algum tempo as pessoas não conseguem distinguir a verdade da mentira.

A comunicação honesta funciona. É a maior e melhor opção em todas as circunstâncias. Enraíza relacionamentos duradouros.

Um bom exemplo de propaganda eficaz que não usou imagens irreais foram os comerciais da Volvo que informavam sobre as características de segurança do carro. Até hoje a marca está associada a este benefício. O efeito da propaganda foi o posicionamento da marca na mente do consumidor. A Volvo atreveu-se à mensagem básica.

Ao falar de produtos e serviços, evite a falsa impressão. Faça produtos excelentes. Ofereça serviços incríveis. Fale deles. Venda os benefícios. Nada será mais lucrativo!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473