12 de abr. de 2010

GELÉIA DE FUNCIONÁRIOS MADUROS

Artigo publicado no JL - Jornal de Londrina, na data de 12/04/2010, na coluna Profissão Atitude


ABRAHAM SHAPIRO

Seus funcionários são como frutas. Quando iniciam no cargo a que foram contratados são como frutas verdes viçosas – dão esperança de uma boa colheita. Com o tempo, caem na rotina e muitos permitem que seu dia-a-dia se torne maçante. É quando seus resultados estabilizam em determinado patamar ou caem. Neste ponto, estão “maduros”, e algo terrível pode acontecer a partir de então. Tal como na natureza, estas "frutas" tendem a ficar passadas.

Em minha casa fomos educados a não desperdiçar comida. Somos originários de lugares onde os alimentos não são abundantes e por isso caros. Antes que as frutas passassem, minha mãe fazia geléia ou compota. Ela as descascava, levava a uma panela apropriada, adicionava açúcar, um certo volume de água, e toda essa mistura ia ao fogo. Por muitas e muitas horas, grande parte da umidade evaporava lentamente, a massa ficava livre de microorganismos e então o produto final era guardado em potes esterilizados.

Desta maneira, as frutas ganhavam vida nova, continuando como alimento por bastante tempo. Minha mãe explicava que sem açúcar e longa exposição ao fogo a geléia não chega ao ponto ideal. Este era um processo que ela conduzia com esmero a fim de não deixar desandar a massa.

Se desejarmos transpor aquela experiência doméstica para o ambiente corporativo, a primeira sugestão a respeito de funcionários maduros e viciados é: dê-lhes um tratamento respeitoso e rico em consideração. Isto equivale a uma boa dose de açúcar na receita de minha mamme. Não deixe sua auto-estima baixar em hipótese alguma. Evite que a motivação desapareça e aja a respeito disso. Faça-os sentirem-se parte de um plano importante, de uma missão clara e envolvente. Determine níveis de participação nas decisões concernentes aos projetos de que eles participam.

O próximo procedimento é: submeta-os ao “fogo” da avaliação de desempenho clara, do feedback permanente e real, dos novos desafios e da reciclagem permanente de conhecimentos, ou seja, proporcione condições para novas aprendizagens e exija que as absorvam bem. Isto servirá para que vejam suas funções desde a ótica correta de “o que fazer”, “como fazer” e “qual o padrão de eficiência esperado”.

Todo mundo necessita enxergar as situações do trabalho desde novos pontos de vista para mudar o pensamento e não estagnar. Todos merecem isso. A rotina e o vício de colaboradores bitolados só leva a perder a consciência sobre que têm a fazer e dos padrões de produtividade com qualidade esperados deles. Uma porção de mudança – por menor que seja – lhes dá uma boa sacudida mental e renova suas perspectivas.

Sem os devidos e constantes cuidados, você perde os seus funcionários – mesmo os melhores. E quando eles se vão, também os acompanha investimentos e know how valiosos.

Não os deixe amadurecer demais. Segundo mamãe, frutas passadas dão dor de barriga. Se chegarem a esse ponto, só servirão, mesmo, para adubo. E nada mais.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473