11 de abr. de 2010

UM PAÍS FABULOSO - Publicado no Jornal de Londrina de 11 de abril de 2010, pg 02

OTÁVIO GOES DE ANDRADE

Em sua coluna no JL do dia 29/03, Abraham Shapiro escreveu sobre ‘o ativo mais valioso de uma empresa’, contando, como ponto de partida, uma bela fábula sobre um sábio que desejou conhecer os protetores da cidade que visitava; os cidadãos que ali residiam apresentaram a sua milícia ao ilustre visitante; para o seu espanto, os moradores descobriram que, na verdade, os protetores aos quais se referia o sábio não eram os membros da milícia, mas sim os professores. Essa fábula me sensibilizou profundamente por dois aspectos: primeiro, por identificação, posto que sou professor, e, segundo, por sua profundidade, posto que nós cidadãos devemos refletir sobre quais são as prioridades de nossa sociedade.

No dia 26/03, a PM e um grupo de professores da rede estadual em greve entraram em confronto na cidade de São Paulo. A PM montou uma barreira na avenida na qual se encontravam os manifestantes impedindo que os mesmos chegassem até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Ao tentarem furar o bloqueio, os professores foram recebidos com golpes de cassetetes, com balas de borracha e com bombas de efeito moral, ao que reagiram com pedaços de pau e pedras. Segundo o jornal O Globo, esse episódio teve como saldo 9 professores e 7 policiais feridos

O que a fábula contada por Shapiro no JL e o episódio ocorrido na cidade de São Paulo têm em comum? Tudo. A prosperidade e a felicidade de uma nação, de um Estado ou de um Município dependem da valorização do professor e de seu trabalho. Países democráticos que investem em educação são países prósperos porque, dentro do que se pode esperar, potencializam as possibilidades de que seus habitantes sejam felizes, já que munidos do saber podem se inserir na sociedade e buscar os caminhos para a sua realização pessoal. Países democráticos (ou não) que não investem em educação, usurpam do ser humano a possibilidade de sua inserção na sociedade, alijando-o de oportunidades de buscar a sua felicidade, pois com a intelectualidade tolhida, sobra a marginalidade que, nesse caso, não é uma opção.

Não quero, claro está, apenas defender os professores e criticar negativamente a ação dos policiais militares, pois estes últimos estavam cumprindo o seu dever, e os primeiros estavam usufruindo de seu direito de greve, de livre expressão e de ir e vir. Quero, nada mais, chamar a atenção para a opção de modelo de educação que vem fazendo a sociedade brasileira. Professor mal remunerado não tem estímulo para o trabalho, porque quando falta o pão em casa ou se carece de condições mínimas de trabalho, sobra decepção; num país em que os números da alfabetização não correspondem ao real domínio do saber por parte de seus cidadãos, sobra manipulação; e num país onde se bate no professor, falta educação.
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Otávio Goes de Andrade é professor do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina