2 de dez. de 2013

BOA VONTADE OU OBRIGAÇÃO?

Artigo publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, em 02 de Dezembro de 2013, na coluna ABRAHAM SHAPIRO, em Empregos e Concursos.


ABRAHAM SHAPIRO

O casamento mais chique do ano acontecerá amanhã. Você acaba de receber o convite. Está claro que o seu foi endereçado após absolutamente todos os outros. Durante semanas a família dos noivos estive atormentada por uma das mais complexas questões filosóficas: “Como cumprir o compromisso social de convidá-lo e garantir que você não aparecerá na festa?”
Bem, o que lhe resta fazer? Primeiro, agradeça-os. Depois, prepare-se para suportar, por dias a fio, a sua esposa lembrá-lo do total e amplo fracasso que você é. Morta de desejo, ela não tem tempo de fazer um vestido à altura do grande acontecimento, e por isso, vocês não irão. Eles conseguiram o que queriam.
Será possível recontextualizar esta situação? Tem como olhar para a metade cheia deste copo? De jeito nenhum!
Definitivamente, portanto, você é um nada! Está claro!!! Pois você terá até de mandar um presente! (É o que manda a regra de etiqueta quando se recebe um convite de casamento com o seu nome em tinta guache e letras góticas... mesmo que você não vá).
A conclusão, amigo, é que você está diante de mais um daqueles copos com duas metades vazias!
Por outro lado, você é um humilde escritor. Está caminhando no shopping enquanto faz umas comprinhas e é surpreendido por um leitor do seu último livro. Ele o reconhece, aproxima-se e manifesta a mais efusiva alegria em ter-lhe encontrado. Confessa que jamais esperava cruzar o caminho de alguém tão importante. (Não que você o seja! Você ainda é aquele chato que mereceu ficar como último convidado do maior casamento do ano... Mas esse admirador o acha importante!)
Então, ele o convida para um café. Você aceita.  Sentam-se juntos, e enquanto falam, o desconhecido camarada demonstra o maior apreço por tudo o que você faz. Ele já leu tudo. Sabe de cada passo seu. Recita temas e trechos de cor e, de sobra, paga o cafezinho com torta de abacaxi que vocês tiveram juntos. Existe prazer ou recompensa maior?
Boa vontade e obrigação. Estes são dois polos da atitude humana.
E eu penso: “Se aos 53 anos de idade eu não for capaz de diferenciar entre obrigação e boa vontade, sou, de fato, um derrotado”.
Agir por obrigação vale a pena? E quanto a escolher as pessoas que irão caminhar ao nosso lado? Não há opção mais sábia: deve ser somente as de boa vontade, pois, se assim não for, você e eu acabaremos reprovados e sem chance alguma de repescagem no fabuloso e inequívoco exame da vida.
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Abraham Shapiro é consultor e coach. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é "simplicidade". Autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome - Inspirações para a Vida, o Trabalho e os Relacionamentos". E-mail: shapiro@shapiro.com.br Fone: 43. 8814.1473