5 de nov. de 2008

COMO ANTECIPAR A VISÃO DO BEM QUANDO TUDO PARECE MAL

ABRAHAM SHAPIRO

A priori, nenhum ser humano tem a capacidade de visão integral dos eventos da vida. Sejam os eventos bons ou os desagradáveis. É impossível saber de tudo antes que o fim chegue. Só D-us tem em perspectiva o passado, o presente e o futuro. Como, então, é possível a um indivíduo mortal extrair algum benefício enquanto vivencia uma crise?

Há atitudes que são chaves para o acesso a este estado ideal. Atitudes cujo poder de incrementar maturidade, visão e compreensão das crises é barbaramente grande.

A primeira atitude prática é crer que há uma mensagem objetiva nas entrelinhas de tudo o que estamos vivendo. De modo prático: não relutar contra isso e abrir a mente para o esforço de ler corretamente a mensagem que precisamos apreender. Com a mente aberta, isto é, sem preconceitos ou premissas, ficamos muito próximos de conclusões e aprendizagens importantes.

A segunda é aumentar nossa capacidade de visão de longo prazo. Como? Através da paciência, minimizando a ansiedade e suportando o fluxo do tempo demandado em cada etapa e fato, até que a situação passe ou seja solucionada.

A terceira atitude – e mais importante – é estar consciente de que em toda crise o mal que pensamos ser aparente é um bem que está oculto.

Introduzir estes conceitos em nossa mente e exercitá-los na prática com a máxima clareza irá gerar em nós a postura de dignidade e nobreza que identificamos nos grandes e elevados seres humanos.

CONFORTO E TRANQÜILIDADE

Nas últimas décadas, o conforto e as facilidades oferecidas em todas as áreas impuseram-nos o imediatismo como modo de vida. Queremos resultados, e que sejam agora mesmo. Este padrão educacional causa-nos elevados prejuízos, não é prático e possui grandes desvantagens que muitas vezes as pessoas se recusam a ver. É um dos males contra os quais se deve lutar em favor de um aprofundamento no significado e na aprendizagem que as crises vêm trazer.

Se fosse possível resumir em uma só palavra tudo de que mais carecemos para enfrentar as crises da vida, esta palavra seria: confiança. Confiança é o antídoto do raciocínio imediatista e da pressa. Quem confia, sabe esperar - refiro-me aqui à confiança em D-us.

Esta confiança tem, é claro, uma componente em nós mesmos, a auto-confiança, pois somos dotados de enormes capacidades que desconhecemos e são inerentes a todo indivíduo desde a criação do mundo.

Três anos atrás, numa noite que tinha tudo para ser de festa e euforia, meu primo foi para a cama chateado e decepcionado. Não ter fechado um negócio que acreditava ser uma oportunidade única de lucro fez dele um profissional derrotado. Dias de tristeza. Noites e noites de insônia e inconformismo. “Onde foi que eu errei?”, “Sou um inútil!!!”, "Não sirvo para mais nada!" eram as expressões que mais povoavam sua mente. A resposta invariável era: "Não mereço sequer continuar vivendo".

O tempo passou. Ele fortificou-se aos poucos. O impacto inicial foi-se atenuando.

Há poucos dias, um corretor de imóveis informou-o casualmente que o negócio não era tão bom quanto meu primo imaginava. Se tivesse sido feito naquele momento do passado, hoje teria acumulado um prejuízo realmente grande. O lucro calculado no princípio, teria se tornado um fatal engano atualmente.

Isto resume fatos típicos da vida diária de muitos homens e mulheres de negócios que condenam suas vidas e carreiras por causa exclusivamente de suas visões particulares e imediatistas.

Do primeiro ao último momento, tudo poderia ter acontecido aleatoriamente – do mais profundo estágio de inconformismo e desespero até a satisfação máxima. No tempo presente, quando a situação foi finalmente revelada e, portanto, conhecida por completo, aquilo que parecia uma perda converteu-se em um benefício real. Germinou, enfim, a compreensão de que um bom e único negócio era, na verdade, um pesadelo irremediável e provavelmente irreversível.

O que foi que, de fato, aconteceu? Um milagre? Não. Somente conhecimento! Puro e certo conhecimento... na hora certa.

Se meu primo tivesse o dom de ver o futuro, teria vivido todos os meses que passou bebendo o sumo amargo daquilo que ele interpretava como sendo um erro estratégico de forma totalmente contrária. Mas acontece que ninguém pode antever o futuro - nem mesmo os próximos segundos.

Portanto cabe a pergunta: como meu primo poderia ter-se libertado da dor e do sentimento de amadorismo que o corroeu por três longos anos? Teria havido muito menos tensão e dissabor ao longo do tempo se existisse uma boa e deliberada dose de confiança. Em existindo aquela certeza do “filho” que acredita que as ações do “pai” - quaisquer que sejam - jamais são más – ainda que alguma dor momentânea se faça presente – a coragem e a convicção do bem teriam sido seu alimento em todas as horas. Cada vez que surgisse a tristeza advinda da sensação de perda, a confiança de que há um bem ainda desconhecido teria sido o antídoto.

Disse um sábio: “Quando as coisas não estiverem dando certo, confie em D-us e fique calmo. Mesmo se for culpa sua e você merecer o que estiver recebendo, confie em D-us. Acredite que tudo é para o bem e fique calmo. Quando D-us vir - do verbo ver - o quanto você confia, E-le disporá tudo para o bem”.

Confiar, sentir-se seguro, só é possível crendo que não existe mal perene, mas sempre, um infinito bem que se esconde nos bastidores de todos os fatos que nos sobrevêm. E ele irá dispontar. Ninguém sabe a hora exata. Mas surgirá... tão certo quanto a aurora surge após uma noite escura e tenebrosa sem estrelas.
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Abraham Shapiro é consultor e coach. Suas principais atuações são junto de líderes empresariais e times de vendas. Contato: shapiro@shapiro.com.br