3 de jan. de 2014

UM ANO BOM E DOCE

ABRAHAM SHAPIRO

No início do ano, o costume e a boa educação ensinam que desejemos "Feliz Ano Novo".  Felicidade é o pensamento e voto mais frequentes desta época.
O que é preciso para se ter um ano novo feliz? Uma porção de coisas, na visão das pessoas. Mas se tudo deve começar pelo conceito, fica difícil entender, pois, mal sabemos o que é a felicidade! Aliás, defini-la é quase impossível. Talvez um modo prático seja através de sua ausência ou por sua negação.
Permita-me fazer algumas tentativas. Comecemos pensando que felicidade não é possuir coisas. A sociedade está contaminada pelo sentimento de competição no quesito “ter”. Quanto mais se tem, melhor é. Quanto maior e mais cara é a posse, mais elevada é a posição de destaque de quem a possui!
Contudo, a felicidade não acontece quando se vive numa mansão em condomínio de luxo, com carros importados, joias e roupas finas em seu interior. Alguém já disse que “quem aumenta suas posses, multiplica suas preocupações". Dois automóveis não traz o dobro da felicidade sobre quem tem um só.
Felicidade também não é diversão. Quem se sente infeliz e investe numa longa viagem até um lugar paradisíaco na esperança de encontrá-la, irá se decepcionar. Ao chegar lá - seja ao Caribe, à Disney ou a Praga -, verá que os sentimentos que originaram sua infelicidade poderão até estar em segundo plano, mas então na bagagem. E ao retornar, os encontrará à soleira da porta de casa, dando boas-vindas.
Felicidade tampouco provém de prestígio, sucesso ou fama. Os milionários e famosos mais disputados pelo populacho são ou foram ícones da suprema infelicidade. Alguns se entregaram às drogas, à bebida ou a uma vida abjeta. Quantos não se  suicidaram quando chegaram ao “topo do mundo”? Elvis Presley, Marilyn Monroe, Michael Jackson.
Não vou prosseguir nisso. Já sabemos o que a felicidade não é.
Mas a pergunta de um milhão de dólares é: “O que fazer para que o Ano Novo seja feliz?”
Darei algumas sugestões.
Comecemos por algo aparentemente absurdo: “Pare de correr atrás da felicidade”. Ela é muito estranha: quanto mais a buscamos, mais  foge da nossa capacidade de alcance. Buscá-la é absolutamente inútil.
Não há nada errado em querer ser feliz. O problema está na ideia fixa de que temos de ser felizes a qualquer custo. Todos temos direito à felicidade. Mas geralmente o que imaginamos pode ser um sonho inexequível.
Muitos acreditam que a felicidade resulta da ausência de sofrimentos, e que feliz é quem não tem problemas. Você pensa assim? Pois então desista! Só os mortos não têm problemas. A vida machuca a todos de algum modo: perdas, mágoas, fracassos, competições, julgamentos etc. Ausência de dor não é uma condição de felicidade. Feliz não é quem nunca levou um tombo, mas provavelmente aquele que conseguiu levantar-se de todas as quedas e prosseguir com boa imagem de si mesmo. Acredito até que, depois disso, ele seja bem mais feliz do que antes.
Outra sugestão para o ano novo feliz é não ficar se perguntando: "Eu sou feliz?".  Em vez disso, mantenha-se ocupado – na loja, no escritório, na cozinha, no fábrica, na sinagoga, na igreja ou como voluntário em um hospital. Faça coisas úteis.
Há estudos científicos que demonstram ser a felicidade um produto da auto realização. É um estado de espírito que resulta da percepção do valor próprio. Observe e você descobrirá que ninguém tem visão mais positiva de si  próprio do que aquele que realizou algo com muito esforço. Experimente dedicar-se, de modo inteiramente focado, a uma tarefa importante, do começo ao fim. Após constatar que o seu esforço deu resultado, você terá maior respeito por si e uma sensação inigualável. Isto é felicidade.
Alice Herz Somer é a sobrevivente mais idosa do Holocausto Judaico perpetrado pelos nazista. Ela tem 109 anos e é considerada a mais velha pianista do mundo. Ela ainda interpreta clássicos ao piano, com preferência declarada por Bach. Alice confessa ser uma pessoa feliz.  Atribui sua sobrevivência ao horror dos campos à alegria com que viveu cada instante, antes e depois daquele inferno. “A vida é linda. Cada dia é maravilhoso!”, ela confessa em um breve filme facilmente encontrado no Youtube. “Eu sou repleta de alegria.  Por toda a vida eu estive sempre rindo. As pessoas não riem. Se existe algum segredo em ter vida longa, este segredo é ser alegre”. Ser alegre, ela diz. Alegria é alegria, não felicidade. Alegria é uma opção. Felicidade é resultado!
Pessoas verdadeiramente felizes não estão preocupados em ser felizes. Mas têm um propósito. E elas o cumprem com amor,  esforço e alegria. Por estas atitudes, abrem a porta para a felicidade. E  ela entra de mansinho para ficar.
Quando chega o Rosh Hashaná, Ano Novo Judaico, nós não dizemos "Feliz Ano Novo" uns aos outros. A frase é “Shaná Tová”, que significa “Um Bom Ano”. A diferença é sutil, porém significativa, bem mais simples e alcançável.
Meu desejo a você e a todos os seus é que o próximo ano seja bom. E  doce, também.  Que a felicidade seja construída como resultado do esforço de viver com valor, com significado e doação. E que você e eu consigamos contaminar muitos indivíduos nesta reação em cadeia de comportamento e fé.
Em vez de pedir a Deus uma vida feliz, tomemos a decisão de tornar a nossa um benefício para as pessoas, com alegria. Comecemos o ano conscientes de que viver vale a pena. E façamos isso todos os dias.
 “Um Bom Ano Novo pra você!!!”
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Abraham Shapiro é consultor e coach. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é "simplicidade". Autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome - Inspirações para a Vida, o Trabalho e os Relacionamentos". E-mail: shapiro@shapiro.com.br Fone: 43. 8814.1473