12 de mar. de 2010

A UTILIDADE INDISPENSÁVEL DO ADVOGADO DO DIABO

ABRAHAM SHAPIRO

No passado, a Igreja Católica fazia a canonização de seus santos através de um julgamento legal. Havia um Promotor da Fé – responsável por apresentar argumentos em favor do potencial santo – e um Advogado do Diabo – que fazia o contrário, isto é, argumentava contra o candidato. Este último tinha que olhar o processo ceticamente, procurando lacunas nas provas de forma a poder dizer, por exemplo, que os milagres supostamente feitos eram falsos.

O ofício de Advogado do Diabo foi estabelecido em 1587 e abolido 404 anos depois, em 1983. Em consequência de sua dissolução, cerca de 500 santos e 1300 beatos foram instituídos, ou seja, os números aumentaram dramaticamente em comparação ao período de 1900 até 1983, quando aconteceram somente 98 canonizações. Isto sugere que os Advogados do Diabo, de fato, reduziam o número de santos. Alguns dizem até que esta função era útil para assegurar que tais procedimentos não ocorressem sem causa merecida.

Na empresa e demais segmentos de negócios o Advogado do Diabo designa uma pessoa que discute a favor de um ponto de vista no qual não acredita, mas que o faz simplesmente para apresentar um argumento cuja função é trazer luz ao juízo. Este processo pode ser utilizado para testar a qualidade do argumento e identificar erros na sua estrutura.

Quando se fazem análises estratégicas, a presença de alguém que desempenhe o papel de Advogado do Diabo é condição sine qua non para se alcançar equilíbrio. A vida real funciona desta forma: tudo tem dois lados – um positivo, ou bom, e outro negativo, ou mau. Pesar vantagens e desvantagens reais é, sem dúvida, a melhor técnica para se chegar a uma escolha ponderada.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473