1 de mar. de 2010

SÉRIOS E TRABALHADORES

Somos um país necessitado de trabalho e ação. Feriados são importantes, mas é preciso equilíbrio. Chegou a hora da sociedade repensar o calendário de trabalho a fim de que a economia não seja prejudicada pelo excesso de fins de semana prolongados. 


ABRAHAM SHAPIRO  especial para o JL - Jornal de Londrina, publicado nesta data

Quarta-feira de cinzas. 16 hs. Meu celular toca: “Sr Shapiro, o José Roberto da empresa XY deseja falar-lhe”. É a secretária. O Zé Roberto quer discutir uma proposta que encaminhei em 20 de dezembro passado. Ele tenta impor a data final de negociação para a próxima sexta-feira. Sou direto: “Dois meses aí e só hoje você se pronuncia? Em uma palavra, Zé: ‘im-possível’ ”. Ele se explica: “Shapiro, do Natal ao Carnaval nada acontece neste país. É o Brasil”.

Natal, Ano Novo e praia com a família somam dezoito merecidos dias de recesso. Vinte, no máximo. Mas uma crença errada sobre o carnaval invalida os trinta ou quarenta dias que seguem a estes. Por outro lado, quem trabalha duro nesse período e toma decisões que darão tom ao resto do ano sabe que são dias preciosos. Na prática, a festa só faz sentido real em algumas capitais e cidades turísticas. Por aqui é um espetáculo de televisão, mais uma oportunidade de viagem de fim de semana prolongado para quem tem recursos e uma séria tentação de fazer dívidas e gastar o que não se tem, para os desprevenidos.

A segunda e terça de Carnaval não são feriados nacionais. São “pontos facultativos”. A dispensa do trabalho depende de acordo entre empresa e empregados. Feriados nacionais são os dias 1º de janeiro, 21 de abril, 1º de maio, 7 de setembro, 12 de outubro, 2 de novembro, 15 de novembro e 25 de dezembro.
A culpa disso não é do Zé. É de um pressuposto que poucos questionam. Muitos, aliás, querem até ganhar com isso.

Há senadores e deputados querendo aumentar os feriados. Um deles pede a inclusão da terça de Carnaval. E justifica: “O Carnaval é uma festa importantíssima para os brasileiros. É uma explosão de alegria e uma forma de liberação das tensões. As pessoas passam as noites e os dias dançando e festejando. Como demonstram diversos estudos sociológicos, antropológicos e históricos, representa um referencial básico para a cultura brasileira. Em nosso país, a rotina do ano civil tem seu efetivo início apenas após o Carnaval”. Interessante. Liberação de tensões? Estudos? Ou retórica de tribuna?

A proposta não foi aprovada. O relator declarou: “Discordamos da inclusão da terça-feira de Carnaval como feriado, pois muitos brasileiros não participam desta festividade”. Um outro disse: “Os feriados que caem no meio da semana causam muitos transtornos e prejuízos à economia do país”. Existe vida inteligente no Congresso Nacional.

Feriados são importantes. Estão oficialmente entre nós desde os tempos da Bíblia. Excesso, contudo, causa perdas e não agrada.

Proponho uma discussão na sociedade. Com inteligência. Nossa economia começa a emitir sinais de confiabilidade ao mundo. Nunca o momento foi mais propício do que agora para anular a infeliz expressão atribuída a Charles de Gaulle: “O Brasil não é um país sério”. A responsabilidade coube a esta geração. Somos sérios, sim. E queremos trabalhar.

Resta apenas tomar a atitude!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473