Letícia Arcoverde | De São Paulo
A acadêmica Isabelle Decarie sentiu que sua produtividade diminuiu
consideravelmente desde que aderiu ao Facebook, em 2007. A canadense, no Brasil
há nove anos, percebeu que precisava de uma técnica que a ajudasse a organizar
melhor o próprio tempo, mas não sabia exatamente onde procurar. A resposta veio
há cerca de um ano, quando ela viu um amigo comentar na própria rede social
sobre a técnica Pomodoro - um método simples de gerenciamento de tempo, que
Isabelle resolveu experimentar.
Tudo o que a técnica exige é um 'timer', papel e lápis - e, é claro,
disciplina. Para começar a usar, basta escolher uma tarefa e acionar o 'timer'
para apitar em 25 minutos, e então dedicar o tempo marcado exclusivamente ao
trabalho. Nada de olhar e-mails, redes sociais, atender telefone ou sair para
pegar um copo de água. Assim que o relógio alerta para o fim do tempo - chamado
de Pomodoro - a pessoa deve fazer um intervalo de cerca de cinco minutos e
registrar no papel que o período foi completo. Após a pausa, volta-se para a
tarefa, e assim por diante. A cada quatro "pomodoros", é permitido
fazer intervalos maiores, de até meia hora.
O formato foi desenvolvido na década de 1980 pelo italiano Francesco
Cirillo, na época estudante, que hoje possui uma empresa de consultoria em
produtividade. Em 1992, ele lançou um livro sobre o método e, a partir de 2000,
a técnica foi disseminada pela internet e se popularizou em várias partes do
mundo. Hoje, ela possui uma ampla comunidade virtual e uma rede de usuários
engajados em divulgar boca a boca a Pomodoro como técnica preferida de gestão
de tempo. O tomate presente no nome e no logo da marca veio do formato do
'timer' de cozinha que Cirillo usava para marcar seus "pomodoros" (a
palavra quer dizer tomate em italiano).
Ao fazer o teste, Isabelle descobriu que a técnica era ideal para ela,
que trabalha diariamente em casa escrevendo resenhas para uma publicação
canadense. "Coloco o 'timer' na cozinha para que o barulho não me
atrapalhe, sento em frente ao computador e não saio até que o relógio
apite", explica.
Para evitar as tentações da internet, sempre que tem alguma dúvida que
exija pesquisa, ela anota para buscar durante os intervalos, que nunca passam
de 10 minutos. É o momento de checar e-mails, ir ao banheiro, abastecer a
xícara de café e se render ao hábito de navegar no Facebook. "A técnica me
ajuda muito na concentração, principalmente quando tenho que escrever algo
encomendado e a inspiração não está muito grande", completa. Ela não
costuma passar dos três "pomodoros" por dia, o suficiente para
completar as metas que estabelece para si mesma.
Representantes do time Pomodoro, responsáveis por disseminar o
"tomate" ao redor do mundo, dizem que perceberam uma grande
popularização da técnica no Brasil nos últimos dois anos, a ponto de terem
criado uma página oficial em português. Uma pesquisa rápida na internet mostra diversas
publicações em blogs, principalmente de 'freelancers' e profissionais de
tecnologia, sobre o tema. Só em 2011, foram mais de 16 mil menções ao método,
em comparação a menos de 500, quatro anos atrás.
Há uma variedade grande de aplicativos de celular e softwares que
auxiliam o cumprimento da técnica, servindo como 'timer' ou até bloqueando o
acesso à internet durante o período de 25 minutos - alguns com mais de mil
downloads em sites brasileiros. Apesar de não haver um aplicativo oficial, o
criador Cirillo diz que aprecia o esforço de quem os desenvolve. "Mas
ainda prefiro a simplicidade do 'timer' de cozinha mecânico", garante.
O analista de sistemas e consultor para a empresa de TI Stefanini Hélio
Medeiros utiliza a ferramenta há dois anos, geralmente com o auxílio de
aplicativos para o computador ou celular. "É simples de aprender, mas
difícil de seguir", define. Além de treinar a disciplina, o que se tornou
mais fácil com o tempo - hoje, por exemplo, ele deixa para usar a internet para
lazer apenas nos intervalos maiores, de meia hora - Medeiros diz que a maior
dificuldade é "mergulhar" no método no ambiente de trabalho.
Ele diz que evitar as interrupções durante os períodos de 25 minutos foi
complicado a princípio, mas desde que ele apresentou a técnica para os colegas,
foi mais fácil deixá-los esperando até os intervalos. Em sua equipe, onde
outras pessoas também usam o método, já foram feitas até placas de
"Respeite o Pomodoro", fixadas junto aos profissionais nos períodos
de imersão.
O desenvolvedor completa em média 16 "pomodoros" por dia, e diz
que sua produtividade melhorou consideravelmente. Também ficou mais fácil
planejar as tarefas e cumprir prazos, o que lhe rendeu elogios da Stefanini e
da Dell, principal cliente que atende pela empresa. "Como também trabalho
em casa, a técnica é uma forma de reproduzir o ambiente com o qual estou
acostumado e ter o mesmo rendimento que no escritório", diz.
Há cerca de um ano, Medeiros começou a juntar a Pomodoro com trilhas
sonoras especiais para trabalhar, usando um "mash-up" de técnicas
criado por Daniel Wildt, um colega da mesma área. A "Songdoro" é
basicamente a Pomodoro acompanhada de músicas específicas para a ocasião,
unidas ao conceito de 'power song', comum entre corredores. Medeiros explica
que ao dar início ao período do Pomodoro no cronômetro, ele começa a ouvir uma
seleção especial que dura 30 minutos - 25 com músicas que o ajudam a trabalhar
e, ao fim, uma para relaxar.
A 'power song' é uma música mais forte escolhida para sinalizar o fim do
Pomodoro. As escolhas dependem do gosto de cada um e do ritmo do dia -
Medeiros, por exemplo, varia entre Nirvana e música clássica, com Marisa Monte
para o intervalo.
Apesar da crescente popularidade da técnica no Brasil, a consultora de
carreira Mariá Giuliese não aposta em métodos de organização de tempo como a
Pomodoro. Para ela, a melhor forma de aumentar a produtividade é saber dar
prioridade a tarefas, e não tentar dominar o tempo.
"As pressões externas já são formas de controle suficientes, e
controle demais atrapalha", analisa. Para os momentos em que há mais
dificuldade em completar uma tarefa ou em que as distrações levam a melhor, sua
dica é refletir sobre o que o está impedindo. Segundo Mariá, muitas vezes o
problema não está na falta de tempo, mas no fato da pessoa estar se forçando a
terminar algo de que não gosta ou não tem capacidade de fazer. Para ela, o
essencial é seguir o próprio ritmo. "É preciso administrar você, e não o
tempo", diz.
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Letícia Arcoverde escreve no Valor online