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Recentemente foi publicado nos
Estados Unidos um livro que tem tudo para se transformar em um best seller
daqueles que ajudam muita gente a mudar sua forma de enxergar a vida. THE
TOP FIVE REGRETS OF THE DYING – “Os
cinco principais arrependimentos de pacientes terminais” – foi escrito por Bonnie Ware, uma enfermeira
especializada em cuidar de pessoas próximas da morte.
Para analisar a publicação,
convidamos a Dra. Ana Cláudia Arantes – geriatra e especialista em cuidados
paliativos do Hospital Israelita Albert Einstein – que comentou, de acordo com
a sua experiência no hospital, cada um dos arrependimentos levantados pela
enfermeira americana. Confira abaixo.
1. Eu gostaria de ter tido
coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros
esperavam de mim
“À medida que a pessoa se dá conta das
limitações e da progressão da doença, esse sentimento provoca uma necessidade
de rever os caminhos escolhidos para a sua vida, agora reavaliados com o filtro
da consciência da morte mais próxima”, explica Dra. Ana Cláudia.
“É um sentimento muito frequente nessa fase. É
como se, agora, pudessem entender que fizeram escolhas pelas outras pessoas e
não por si mesmas. Na verdade, é uma atitude comum durante a vida. No geral,
acabamos fazendo isso porque queremos ser amados e aceitos. O problema é quando
deixamos de fazer as nossas próprias escolhas”, explica a médica.
“Muitas pessoas reclamam de que trabalharam a
vida toda e que não viveram tudo o que gostariam de ter vivido, adiando para
quando tiverem mais tempo depois de se aposentarem. Depois, quando envelhecem,
reclamam que é quando chegam também as doenças e as dificuldades”, conta.
2. Eu gostaria de não ter
trabalhado tanto
“Não é uma sensação que acontece somente com
os doentes. É um dilema da vida moderna. Todo mundo reclama disso”, diz a
geriatra.
“Mas o mais grave é quando se trabalha em algo
que não se gosta. Quando a pessoa ganha dinheiro, mas é infeliz no dia a dia,
sacrifica o que não volta mais: o tempo”, afirma.
“Este sentimento fica mais grave no fim da
vida porque as pessoas sentem que não têm mais esse tempo, por exemplo, pra
pedir demissão e recomeçar”.
3. Eu gostaria de ter tido
coragem de expressar meus sentimentos
“Quando estão próximas da morte, as pessoas
tendem a ficar mais verdadeiras. Caem as máscaras de medo e de vergonha e a
vontade de agradar. O que importa, nesta fase, é a sinceridade”, conta.
“À medida que uma doença vai avançando, não é
raro escutar que a pessoa fica mais carinhosa, mais doce. A doença tira a
sombra da defesa, da proteção de si mesmo, da vingança. No fim, as pessoas
percebem que essas coisas nem sempre foram necessárias”.
“A maior parte das pessoas não quer ser
esquecida, quer ser lembrada por coisas boas. Nesses momentos finais querem
dizer que amam, que gostam, querem pedir desculpas e, principalmente, querem
sentir-se amadas. Quando se dão conta da falta de tempo, querem dizer coisas
boas para as pessoas”, explica a médica.
4. Eu gostaria de ter mantido
contato com meus amigos
“Nem sempre se tem histórias felizes com a
própria família, mas com os amigos, sim. Os amigos são a família escolhida”,
acredita a médica. “Ao lado dos amigos nós até vivemos fases difíceis, mas
geralmente em uma relação de apoio”, explica.
“Não há nada de errado em ter uma família que
não é legal. Quase todo mundo tem algum problema na família. Muitas vezes
existe muita culpa nessa relação. Por isso, quando se tem pouco tempo de vida,
muitas vezes o paciente quer preencher a cabeça e o tempo com coisas
significativas e especiais, como os momentos com os amigos”.
“Dependendo da doença, existe grande mudança
da aparência corporal. Muitos não querem receber visitas e demonstrar fraquezas
e fragilidades. Nesse momento, precisam sentir que não vão ser julgados e essa
sensação remete aos amigos”, afirma.
5. Eu gostaria de ter me
deixado ser mais feliz
“Esse arrependimento é uma conseqüência das
outras escolhas. É um resumo dos outros para alguém que abriu mão da própria
felicidade”.
“Não é uma questão de ser egoísta, mas é
importante para as pessoas ter um compromisso com a realização do que elas são
e do que elas podem ser. Precisam descobrir do que são capazes, o seu papel no
mundo e nas relações. A pessoa realizada se faz feliz e faz as pessoas que estão
ao seu lado felizes também”, explica.
“A minha experiência mostra que esse
arrependimento é muito mais dolorido entre as pessoas que tiveram chance de
mudar alguma coisa. As pessoas que não tiveram tantos recursos disponíveis
durante a vida e que precisaram lutar muito para viver, com pouca escolha, por
exemplo, muitas vezes se desligam achando-se mais completas, mais em paz por
terem realmente feito o melhor que podiam fazer. Para quem teve oportunidade de
fazer diferente e não fez, geralmente é bem mais sofrido do ponto de vista
existencial”, alerta.
Dica da especialista
“O que fica bastante claro quando vejo
histórias como essas é que as pessoas devem refletir sobre suas escolhas
enquanto têm vida e tempo para fazê-las”.
“Minha dica é a seguinte: se você pensa que,
no futuro, pode se arrepender do que está fazendo agora, talvez não deva fazer.
Faça o caminho que te entregue paz no fim. Para que no fim da vida, você possa
dizer feliz: eu faria tudo de novo, exatamente do mesmo jeito”.
De acordo com Dra. Ana Cláudia,
livros como este podem ajudar as pessoas a refletirem melhor sobre suas
escolhas e o modo como se relacionam com o mundo e consigo mesmas, se
permitindo viver de uma forma melhor. “Ele nos mostra que as coisas importantes
para nós devem ser feitas enquanto temos tempo”, conclui a médica.
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