10 de dez. de 2009

INFLUÊNCIAS (QUASE SEMPRE) NEGATIVAS DA EMOÇÃO

ABRAHAM SHAPIRO

Cuidado com o que você diz a pessoas emocionalmente carentes. Elas não interpretam o que escutam segundo apenas o repertório pessoal de situações vividas ou o nível de compreensão que desenvolveram até então. Sua necessidade iminente lhes impõem um sistema momentâneo de interpretação. Isto é perigoso.

O sujeito desequilibrado busca ajuda num livro sagrado de sua religião e o abre ao acaso. Lê o trecho em que o remorso de um traidor o levou a enforcar-se. Ele não hesita. Vai e se enforca acreditando tratar-se de um “ordem divina”.

O funcionário em crise de valor profissional expõe suas dificuldades a um colega. Este, no afã de elevar o moral do amigo, diz: "Deixe disso. Você é um grande profissional. Tem ótimos resultados. Erga a cabeça e seja forte. Coragem. Prossiga sua carreira com bom ânimo. Faça o que você nunca teve coragem de fazer por sua realização". O funcionário sai dali e dirige-se a seu chefe a fim de pedir aumento de salário.

A moça está depressiva pelas circunstâncias momentâneas da vida e busca os conselhos de seu professor de confiança. "Você é uma pessoa maravilhosa" - diz ele. "É inteligente e terá oportunidades únicas na vida. Não se sinta rebaixada. Supere seu complexo de inferioridade e abra os olhos para a bela mulher que você é. Qualquer um vê que você é linda e atraente. Não se abata com maus pensamentos". Ela o ouve com atenção. Ao virar as costas, acusa o professor de assédio sexual.

Nos três casos, os personagens não buscavam um pensamento novo que os demovesse de seu estado presente, mas apenas a confirmação de algo a que estavam previamente intencionados. O enforcado tinha tendências suicidas. O funcionário sentia-se mal valorizado e queria ganhar mais. A mocinha frustrada temia "ficar para titia". Nenhum rapaz interessava-se por ela, por isso, aproveitou-se das palavras do professor para preencher o seu vazio sexual ou sentimental, sei lá.

Por melhor que seja o desejo de prestar auxílio moral a alguém, avalie as necessidades desta pessoa antes de fazê-lo. Não dê nada, não diga nada, não indique saída alguma sem previamente entender o que ela está buscando “em você” ou "através de você". Tudo o que elas querem é satisfazer carências poderosas - que elas mesmas não conseguem suportar. Portanto, farão interpretações enviesadas, estrábicas e regidas pela força destes interesses pessoais. Crêem apenas em si mesmas agora. Acreditam somente em seus sentimentos momentâneos. Nada poderá mudá-las a respeito disso. Depois de verbalizadas, por mais que você negue a intenção torta que elas atribuíram às suas palavras, estes indivíduos em estado parasitário jamais se deixarão convencer de que suas crenças e julgamentos são falsos e embaraçosos.

Ao atender pessoas carentes, cuide da sua boa intenção, pois, o risco de você tornar-se vítima injusta é infinitamente maior de você se sair como herói ou salvador.
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473